ARTIGO

Tenho Cabelo Branco. Posso trabalhar em uma startup?

Ilustração: Cristie Marie

Startups são um clube fechado em que apenas jovens podem ser membros? Ou profissionais mais maduros, com ou sem cabelos brancos, também são aceitos?

Há um tempo atrás fui a uma empresa de Outplacement realizar uma palestra sobre como a inovação altera as profissões e funções, baseado no que estamos vivendo de mudanças sociais, comportamentais e tecnológicas. Lá estavam vários executivos, ex-diretores, ex-presidentes, nível bem sênior, às vezes chamados de C level. Durante a palestra falo sobre como as novas tecnologias (inovações disruptivas ou não) alteram profissões, cargos, funções, responsabilidades, comportamentos, e alteram empresas. Algumas empresas percebem mais, outras menos. E fiz essa reflexão para os executivos, no sentido de os estimular a perceber o ambiente externo, e adquirir conhecimentos para aumentar sua empregabilidade. Falo de startups, de seus modelos de negócios, das novas configurações, conexões etc. Surgiram muitas perguntas durante, foi bem estimulante, como costuma ser. Mas nesse dia em especial, ao final, uma das cinco ou seis pessoas que se aproximaram, chamou a atenção com sua pergunta “à queima-roupa”:

– Tenho cabelo branco, como eu faço para trabalhar em uma startup

De fato, ele tinha cabelos brancos, muitos, na cabeça toda praticamente. Mas correlacionar os dois eventos, cabelo branco com startup, não tinha me ocorrido, me pegou de surpresa… E esta questão vem com frequência à minha cabeça (esta também com cabelos brancos, mas isto não vem ao caso). Assim, resolvi compartilhar neste espaço, o que disse aquele dia e um pouco mais que pensei a respeito, com mais reflexões ao longo do tempo.  

– Olha só, você deveria estar atualizado ao ponto de que aqueles que trabalham em startups nem percebam que você tem cabelo branco. 

Bem, essa foi minha resposta, ou algo assim, naquele momento, pego de surpresa pela questão e seu correlacionamento diferenciado. 

Após um tempo refletindo sobre a questão, penso que faz muito sentido a pergunta. Há expectativas dos dois lados, das startups, e dos profissionais mais experientes, com mais idade, com cabelo branco ou não. Uma possibilidade bem simplista seria apenas: “pinta o cabelo de um tom escuro”; e está resolvido. Mas essa é uma “solução” que não endereça o dilema real.  

Ouvi já algumas vezes dos mais jovens contratando em startups algo do tipo: “ele/ela custa muito caro” ou “ele/ela não sabe o que eu preciso” ou “preciso de dinamismo aqui”; são preconceitos que existem, não em todos os casos, mas em alguns. Bem como ocorrem algumas vezes também do lado do executivo sênior pensamentos do tipo: “pessoal jovem, quer tudo muito rápido, não para pra pensar”. Talvez os dois lados tenham razão, ou talvez os dois lados não tenham razão, ou talvez haja um meio-termo…

Para minimizar esse gap de percepções, acredito que devemos, todos nós, nos atualizar face ao fato da mudança em nosso entorno ser constante e nos afetar. Os cenários são muito voláteis, gerando muitos dados, informações e conhecimentos novos. O mecanismo de sobrevivência e empregabilidade se dá pela aquisição de conhecimento formal (em cursos) ou informal (em experiência prática e relacionamentos), realizando uma autorreflexão de comportamentos e definindo planos de ação para se transformar. 

Desta forma, a cor do seu cabelo, será irrelevante. Se houver um preconceito por causa da cor de seu cabelo, em um primeiro momento, ele deverá ser superado em um segundo ou terceiro momento, após conhecer mais a seu respeito. E o importante será como você pode contribuir. Se ainda assim o potencial contratante da startup apenas olhar a cor do seu cabelo e não seus valores, capacidades e conhecimentos, agradeça por não trabalhar lá. Provavelmente você é que não iria querer.